Fé (do Latim fides,
fidelidade e do Grego pistia) é a firme opinião de que algo é verdade, sem
qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta
confiança que depositamos nesta idéia ou fonte de transmissão.
A fé acompanha absoluta
abstinência à dúvida pelo antagonismo inerente à natureza destes fenômenos
psicológicos e lógica conceitual. Ou seja, é impossível duvidar e ter fé ao
mesmo tempo. A expressão se relaciona semanticamente com os verbos crer, acreditar,
confiar e apostar, embora estes três últimos não necessariamente exprimam o
sentimento de fé, posto que podem embutir dúvida parcial como reconhecimento de
um possível engano. A relação da fé com os outros verbos, consiste em nutrir um
sentimento de afeição, ou até mesmo amor, por uma hipótese a qual se acredita,
ou confia, ou aposta ser verdade.Portanto se uma pessoa acredita, confia ou
aposta em algo, não significa necessariamente que ela tenha fé. Diante dessas
considerações, embora não se observe oposição entre crença e racionalidade,
como muitos parecem pensar, deve-se atentar para o fato de que tal oposição é
real no caso da fé, principalmente no que diz respeito às suas implicações no
processo de aquisição de conhecimento, que pode ser resumidas à oposição direta
à dúvida e ao importante papel que essa última desempenha na aprendizagem.
É possível nutrir um
sentimento de fé em relação a um pessoa, um objeto inanimado, uma ideologia, um
pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, um paradigma
popular social e historicamente instituído, uma base de propostas ou dogmas de
uma determinada religião. Tal sentimento não se sustenta em evidências, provas
ou entendimento racional (ainda que este último critério seja amplamente discutido
dentro da epistemologia e possa se refletir em sofismos ou falácias que o
justifiquem de modo ilusório) e, portanto, alegações baseadas em fé não são
reconhecidas pela comunidade científica como parâmetro legítimo de
reconhecimento ou avaliação da verdade de um postulado. É geralmente associada
a experiências pessoais e herança cultural podendo ser compartilhada com outros
através de relatos, principalmente (mas não exclusivamente) no contexto
religioso, e usada frequentemente como justificativa para a própria crença em
que se tem fé, o que caracteriza raciocínio circular.A fé se manifesta de
várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais (tais como
reconforto em momentos de aflição desprovidos de sinais de futura melhora,
relacionando-se com esperança) e a motivos considerados moralmente nobres ou
estritamente pessoais e egoístas. Pode estar direcionada a alguma razão
específica (que a justifique) ou mesmo existir sem razão definida. E, como
mencionado anteriormente, também não carece absolutamente de qualquer tipo de
argumento racional.
Contexto Social
A expressão fé pode
assumir diferentes conotações que se afastam parcialmente do significado
original a depender do contexto quando empregadas pelo discurso coloquial ou
técnico, como por exemplo, o legislativo: Garantir, por encargo legal, a
verdade ou a autenticidade do texto de um documento ou de um relato, de uma
assinatura, etc. Logo, no contexto social podemos identificar algumas variações
semânticas da expressão, tais como:
Má fé
Designa-se má fé quando
um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, age intencionalmente com o interesse
de prejudicar alguém. Como exemplo poderíamos citar uma propaganda enganosa, um
contrato desonroso, entre outros.
Boa fé
Designa-se boa fé quando
alguém age de maneira honrosa e com boa conduta. Pessoa que faz o possível para
cumprir seu dever. Honrada, Honesta, não engana, não age com dolo. Como exemplo
podemos citar um contrato oral, em que as partes se comprometem com algum
serviço, e ambas concluem suas partes e aceitam de acordo comum que está
realizada.
Fé pública
Presunção legal de
autenticidade, verdade ou legitimidade de ato emanado de autoridade ou de
funcionário devidamente autorizado, no exercício de suas funções. Tudo o que
for registado possui fé pública. O registador age em nome do Estado quando usa
a expressão Dou fé, significando que, o afirmado, transcrito e certificado, é
verdadeiro. Visa proteger o terceiro, que contrata, confiando no que o registo
publica. Em sentido geral, esse princípio possibilita que o terceiro, realize
de boa-fé um negócio oneroso, passando a ter a presunção de segurança jurídica.
Outras variações
populares
Normalmente a expressão
popular dar fé significa garantir, assegurar ou transmitir confiança. Em termos
gerais significa afirmar como verdade, testificar, autenticar, prestar
testemunho autêntico. Da mesma forma, a expressão botar fé, expressa o
sentimento de confiança, reconhecimento e aceitação.
Em Cabo Verde o termo
tomar fé é o mesmo que tomar conhecimento, notar.
Contexto religioso
No contexto religioso,
"fé" tem muitos significados. Às vezes quer dizer lealdade a
determinada religião. Nesse sentido, podemos, por exemplo, falar da "fé
cristã" ou da "fé islâmica".
Para religiões que se
baseiam em crenças, a fé também quer dizer que alguém aceita as visões dessa
religião como verdadeiras. Para religiões que não se baseiam em credos, por
outro lado, significa que alguém é leal para com uma determinada comunidade
religiosa.
Algumas vezes, fé
significa compromisso numa relação com Deus. Nesse caso, a palavra é usada no
sentido de fidelidade. Tal compromisso não precisa ser cego ou submisso e pode
ser baseado em evidências de carácter pessoal. Outras vezes esse compromisso
pode ser forçado, ou seja, imposto por uma determinada comunidade ou pela
família do indivíduo, por exemplo.
Para muitos judeus, por
exemplo, o Talmud mostra um compromisso cauteloso entre Deus e os israelitas.
Para muitas pessoas, a fé, ou falta dela, é uma parte importante das suas
identidades.[3]
Muitos religiosos
racionalistas, assim como pessoas não-religiosas, criticam a fé, apontando-a
como irracional. Para eles, o credo deve ser restrito ao que é directamente
demonstrado por lógica ou evidência, tornando inapropriado o uso da fé como um
bom guia. Apesar das críticas, seu uso como justificativa é bastante comum em
discussões religiosas, principalmente quando o crente esgota todas as
explicações racionais para sustentar a sua crença. Nesse sentido, geralmente as
pessoas racionais acabam aceitando-a como justificativa válida e honrosa,
provavelmente devido ao uso da palavra ser bastante impreciso, e geralmente
associado a uma boa atitude ou qualidade positiva. A atitude também não é
incomum entre alguns cientistas, com destaque para os teístas; embora a ciência,
ao menos como estipulada pelo método científico, estabeleça um método de
trabalho que exclui a fé e os credos como explicações válidas para fenômenos e
evidencias naturais. Em ciência as ideias devem ser testáveis e por tal
falseáveis, e o status de verdadeiro atrelado a uma ideia é mantido apenas
durante a ausência de fato ou evidência científica contraditórios; e
obrigatoriamente mediante a existência de fato ou fenômeno científicos que
impliquem corroboração.
Permanece um ponto
merecedor de discussão saber se alguém deve ou não usá-la como guia para tomar
decisões, já que essas decisões seriam totalmente independentes das de outras
pessoas e muitas vezes contrárias às delas, gerando consequências
potencialmente danosas para o indivíduo e para a sociedade de que faz parte. Um
exemplo de consequências danosas, curiosamente também fornecido por pessoas que
aceitam o uso da fé (em seus casos particulares), são os ataques terroristas,
onde a suposição de que a fé é um motivo válido para a crença e a admissão de
que o terrorista pode alegar a fé como justificativa do atentado deixa patente
a gravidade do problema.
Fé em Deus
Algumas vezes, fé pode
significar acreditar na existência de Deus. Para pessoas nesta categoria,
"Fé em Deus" simplesmente significa "crença de alguém em
Deus".
Muitos Hindus, Judeus,
Cristãos e Muçulmanos alegam existir evidência histórica da existência de Deus
e sua interacção com seres humanos. No entanto, uma parte da comunidade de
historiadores e especialistas discorda de tais evidências. Segundo eles, não há
necessidade de fé em Deus no sentido de crer contra ou a despeito das
evidências; eles alegam que as evidências naturais são suficientes para
demonstrar que Deus certamente existe, e que credos particulares, sobre quem ou
o quê Deus é e por que deve-se acreditar nele são justificados pela ciência ou
pela lógica. Em uma perspectiva cristã protestante, foi no sentido definido
pela primeira alegação citada é que desenvolveu-se, segundo seus autores, a
proposta do Design Inteligente; e segundo as críticas esse desenvolveu-se
objetivando apoiar ambas as alegações.
Consequentemente a
maioria acredita ter fé em um sistema de crença que é de algum modo falso, o
qual têm dificuldade em ao menos descrevê-lo. Isso é disputado, embora, por algumas
tradições religiosas, especialmente no Hinduísmo que sustenta a visão de que
diversas "fés" diferentes são só aspectos da verdade final que
diversas religiões têm dificuldade de descrever e entender. Essa tradição dizem
que toda aparente contradição será entendida uma vez que a pessoa tenha uma
experiência do conceito Hindu de moksha. O que se é acreditado em referência a
Deus nesse sentido é, ao menos no princípio, somente a confiança como evidência
e a lógica por qual cada fé é suportada.
Para a ciência, embora o
então defendido credo e não necessariamente fé em Deus (ou outra deidade) possa
vir a mostrar-se plenamente compatível com as evidências encontradas no mundo
natural, tais evidências não são suficientes para garantir ou mesmo implicar a hipótese
de Sua existência como certa. A definição mais difundida de Deus, aos olhos da
ciência, faz-se por sentença constitutiva notoriamente e certamente não
testável frente aos fatos naturais; e por tal é com elas sempre compatível,
seja qual for a evidência ou fenômeno, dadas a onipotência e transcendência de
Deus em sua definição tradicional. A não falseabilidade ou não testabilidade
atreladas às definições de Deus (e demais deidades) bem como aos fenômenos
sobrenaturais, não obstante justapostas às transcendências postuladas de tais
seres ou eventos causais, são responsáveis pelos Deus, deidades ou causas
sobrenaturais não figurarem como elementos ou hipóteses válidos no escopo
científico propriamente dito. A ciência segue, em decorrência, o método científico
e o naturalismo metodológico. E nesses termos, Design Inteligente não é
ciência; e Deus encontra suporte apenas na fé!
Finalmente, alguns
religiosos - e muitos dos seus críticos - frequentemente usam o termo fé como
afirmação da crença sem alguma prova, e até mesmo apesar de evidências do
contrário. Muitos judeus, cristãos e muçulmanos admitem que pode ser confiável
o que quer que as evidências particulares ou a razão possam dizer da existência
de Deus, mas que não é essa a base final e única de suas crenças. Assim, nesse
sentido, "fé" pode ser: acreditar sem evidências ou argumentos
lógicos, algumas vezes chamada de "fé implícita". Outra forma desse
tipo de fé é o fideísmo: acreditar-se na existência de Deus, mas não deve-se
basear essa crença em outras crenças; deve-se, ao invés, aceitar isso sem
nenhuma razão. Fé, nesse sentido, simplesmente a sinceridade na fé, crença nas
bases da crença, frequentemente é associado com Soren Kierkegaard e alguns
outros existencialistas, religiosos e pensadores. William Sloane Coffin fala
que fé não é aceita sem prova, mas confiável sem reserva
Judaísmo
A teologia Judaica atesta
que a crença em Deus é altamente meritória, mas não obrigatória. Embora uma
pessoa deva acreditar em Deus, o que mais importa é se essa pessoa leva uma
vida decente. Os racionalistas Judeus, tais como Maimónides, mantêm que a fé em
Deus, como tal, é muito inferior ao aceitar que Deus existe através de provas
irrefutáveis.
Na Bíblia Hebraica a
palavra hebraica emet ("fé") não significa uma crença dogmática. Ao
invés disso, tem uma conotação de fidelidade (da forma passiva
"ne'eman" = "de confiança" ou "confiável") ou
confiança em Deus e na sua palavra. A Bíblia hebraica também apresenta uma
relação entre Deus e os filhos de Israel como um compromisso. Por exemplo,
Abraão argumenta que Deus não deve destruir Sodoma e Gomorra, e Moisés
lamenta-se por Deus tratar os Filhos de Israel duramente. Esta perspectiva de
Deus como um parceiro com quem se pode pleitear é celebrada no nome "Israel,"
da palavra Hebraica "lutar".
Cristianismo
Segundo o pensamento
cristão, todo o conjunto dos ensinos transmitidos por Jesus Cristo e seus
discípulos constitui a "fé". (Gálatas 1:7-9) A fé cristã baseia-se em
toda a Bíblia como a Palavra de Deus, que inclui as Escrituras Hebraicas, as
quais Jesus e os escritores das Escrituras Gregas Cristãs frequentemente
citaram em apoio das suas declarações. Segundo estas Escrituras, para ser
aceitável a Deus, é necessário exercer fé em Jesus Cristo, e isto torna possível
obter uma condição justa perante Deus.
Novo Testamento
Fé é acreditar em coisas
que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem, independentemente daquilo
que vemos, ou ouvimos". Fé
Hebreus 11:1.
Na Bíblia, a palavra fé
transmite a ideia de confiança, fidúcia, firme persuasão. A fé é "o firme
fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem"
(Hebreus 11:1), é a convicção de algo subjacente a condições visíveis e que
garante uma posse futura, sendo a base de esperança para se ter convicção a
respeito de realidades não vistas. Segundo Romanos 10:17 a fé vem pelo
aprendizado da bíblia.
Comentando a função da fé
em relação ao convénio com Deus, o escritor das cartas aos Hebreus traduz fé
com a mesma palavra que geralmente aparece em antigos papiros oficiais de
negócios, dando a ideia que um convénio é uma troca de garantias que garantam
que futuras transferência de posses descritas no contrato. Nessa visão, Moulton
e Milligan sugerem a redenção: "Fé é o título da ação esperada.".[6]
Sintetizando o conceito, no Novo Testamento a fé é a relação sobre a
auto-revelação de Deus, especialmente no sentido de confidência com as
promessas e medo de ameaças que estão nas escrituras. Os escritores
evidentemente supõem que os seus conceitos de fé estão enraizados nas
escrituras hebraicas. No mais, os escritores do Novo Testamento igualam fé em
Deus com crença em Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário