O plano de Deus é
edificar a Igreja; isso é o que Deus se propôs. Interessa a todo arquiteto que
seu projeto se realize exatamente conforme foi projetado. E isso é o que o
Senhor quer. Mas cmo se edifica a Igreja? Eu quero destacar seis coisas que
Paulo mostra de maneira direta ou indireta em sua 1a. epístola a Timóteo.
O Amor
A primeira coisa que
Paulo mostra a Timóteo é que a Igreja se edifica pelo amor. “Pois o propósito
deste mandamento é o amor nascido de coração limpo, e de boa consciência, e de
fé não fingida” (1Tm1:5). Paulo está dizendo:
“Timóteo, cuidado com todas as palavras e os ensinos que geram disputas e não
realizam o plano de Deus; não é a edificação de Deus”. Também foi Paulo quem
disse: “o conhecimento envaidece, mas o amor edifica” (1Co8:1). É importante
que tenhamos conhecimento e que possamos transmitir, mas somente o
conhecimento, pode nos envaidecer. Paulo não está defendendo a ignorância, está
defendendo o amor. O amor edifica. E se ao amor agregarmos conhecimento,
Maravilhoso! Mas o importante aqui é o amor. Em Efésios 4 Paulo diz: “todo o
corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a
si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função”
A Igreja se edifica em
amor. Irmãos, podemos ter grandes revelações, podemos ter tal fé que transporte
montes, podemos conhecer todos os mistérios e ter todos os dons e carismas, mas
sem amor, de que nos serve? Seremos como o metal que ressoa ou o címbalo que
retine. Nada pode suplantar o amor. Deus é amor, e onde há amor Deus está, e no
meio da fraternidade edifica a Igreja. Se tu queres contribuir para a
realização do plano de Deus, ama a teus irmãos! O amor edifica. A Igreja vai se
edificando em amor.
O que é edificar? Além do
conceito da edificação individual, edificar significa unir pedra com pedra.
Alguém pega uma pedra, lhe põe argamassa e a une a outra pedra. Edificar é unir
pedra com pedra, e assim vai se levantando a parede. E disse o apóstolo Paulo:
“Qual é o vínculo perfeito que vos une? O amor!”. Assim, quando estamos
amando-nos, a Igreja está se edificando. Não é por muitas e eloqüentes
palavras. A palavra tem seu lugar, com já veremos, mas primeiro vem o amor.
Agora, irmãos, o amor é
fruto do Espírito. Esta palavra “amor”, vocês já sabem, é ágape, que é amor de
Deus. É um amor que pensa no bem do outro, que se sacrifica para o bem do
outro, que se entrega, que procura de todas as maneiras servir, abençoar. Isso
é o que Deus fez conosco. Esse ágape, disse Paulo, “foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo”. Deus é amor. O espírito Santo é Deus morando em
nós. E como Deus é amor, o Espírito Santo é amor. Ele derrama este amor em
nossos corações, e este amor flui, nasce, brota, de um coração limpo. “O
propósito deste mandamento é o amor nascido de coração limpo”, disse Paulo, “de
boa consciência, e de fé não fingida”.
Jesus disse, falando do
Espírito Santo: “o que bebe da água que eu lhe der, se fará nele uma fonte que
jorra para a vida eterna”. Também disse: “Quem crê em mim, do seu interior
fluirão rios de água viva”.E Paulo disse que é o amor nascido de um coração
limpo. Este é o Espírito Santo morando em nós, a vida de Deus fluindo para os
irmãos, para os novos, para os antigos, para todos. Este é o amor do Senhor.
Quando pecamos, o
Espírito se entristece em nós. Ele é muito sensível e deixa de fluir. Se apaga.
Por isso diz: “o amor nascido de coração limpo”. É importante manter o coração
limpo. E diz também “de boa consciência”. O que é uma boa consciência? É esse
conhecimento que temos de nós mesmos. Quando pecamos, o Espírito se entristece,
se apaga. Nossa consciência, se é boa, quer dizer, se funciona bem, nos chama a
atenção. Quando pecamos, acende-se uma luz vermelha em nosso interior. É como o
apito do árbitro que soa em uma partida. É importante que obedeçamos a nossa
consciência. Quando ela nos diz: “o que fizeste é errado, o Espírito se
entristeceu dentro de ti”, precisamos obedece-la.
Não somos perfeitos,
todos pecamos. Muitas vezes pecamos com palavras. A própria palavra do Senhor
nos insta a não pecar, mas se pecamos, indica qual é o caminho para limpar
nosso coração. Se pecamos, ofendemos, lastimamos, mentimos, roubamos, ou
fizemos qualquer coisa que desagrada a Deus. Necessitamos obedecer nossa
consciência, obedecer também a Deus e confessar nosso pecado. Se não
obedecemos, a consciência segue dizendo-nos: “O que fizeste está errado”. Mas
se endurecermos o coração ao chamado da consciência, vamos ficando insensíveis.
Parece que quando
pecamos, a consciência atua mais forte, e se não a atendemos, vai suavizando, até
que pode chegar o momento em que já é uma coisa muito leve que acontece
conosco. Temos que tomar o cuidado de não rejeitar o trabalho da nossa
consciência.Veja o que disse Paulo a Timóteo nos v18 a 20: “Timóteo, meu filho,
dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para
que, seguindo-as, você combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência
que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé. Entre eles estão Himeneu
e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”.
Este quadro é tremendo. O que é que eles rejeitaram? Himeneu e Alexandre parece
que pecaram, e suas consciências eram boas. Ela os advertiu uma e outra vez,
mas eles a rejeitaram, e ao rejeitarem a consciência, naufragaram na fé.
Que tem a ver a fé com a
boa consciência? Tem muito a ver, porque
a fé também é fruto do Espírito. É o Espírito que produz em nós o amor e é o
Espírito que produz em nós a fé. E aqui Paulo usa uma figura marítima, o
naufrágio. Sabe como se produz um naufrágio? Imaginemos um bote e alguém que ai
remando e de repente percebe que se fez em seu barco um pequeno furo e que está
entrando água. Quando pecamos, se faz um furo em nosso bote e começa a entrar
água. Que temos que fazer? Consertar, e não seguir assim. A princípio, parece
que tudo vai bem, e o bote flutua. Mas continua entrando água devagar.
Assim é quando pecamos: a
consciência nos adverte, e nós a rejeitamos. E seguimos pregando, seguimos
cantando, seguimos orando. Parece que tudo segue igual, nada muda. Mas de um
momento a outro, o que acontece com esse bote? Quando o peso da água já é
suficiente, em um instante o bote afunda.
É importante ter esta
prática em nossa vida: obedecer à voz da consciência, obedecer ao Senhor em Sua
Palavra, confessar nossos pecados. Se você ofendeu sua esposa, seu marido, se
disse alguma mentira a algum irmão, a seu patrão, ou a algum empregado, se
cometeu algum pecado sexual em segredo, se viste na televisão ou na Internet
alguma coisa indecente – e hoje há muita – sua consciência foi manchada, sua
consciência o incomoda, você fez o que não devia, olhou o que não devia olhar.
Deus não o condena, guia-o ao arrependimento.
Confesse seu pecado as
pessoas envolvidas, e a um dos irmãos. “confessai vossas faltas uns aos outro,e
orai uns pelos outros para serem curados”. Este amor é o que edifica a Igreja,
e este amor nasce de um coração limpo, de uma boa consciência e de uma fé não
fingida. Dessas coisas desviando-se alguns apartaram-se a palavras vãs, mas no
coração não estão crendo no que dizem.
O amor é de Deus, não é
obra nossa. É Cristo em nós. Necessitamos viver no Espírito 24 horas por dia,
pra que o Espírito flua em nós e este amor edifique a Igreja.
A Oração
A segunda coisa que Paulo
ensina aqui que edifica a Igreja, e não só a Igreja, mas que necessitamos
também em nossa responsabilidade ante o mundo, está no capítulo 2: “Exorto-vos
antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças
por todos os homens” e segue falando como devemos orar pelos reis, pelas
autoridades. No versículo 8 ele diz: “quero, pois, que os homens orem em todo
lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões”. Irmãos, a Igreja se
edifica pela oração. O que é a oração? É o testemunho mais eloqüente de nossa
incapacidade e debilidade.
Por que oramos? Nós não
podemos edificar a Igreja, não podemos sequer converter um menino de oito anos,
nem podemos transformar o pecador. Não podemos dar crescimento; podemos plantar
e regar, mas não podemos dar crescimento. Podemos pregar, mas não podemos dar
espírito de sabedoria e revelação. É obra de Deus.
A edificação da Igreja é
obra de Deus, não é obra humana. E nós temos que orar como testemunho de
humildade e incapacidade. “Senhor eu não posso. O único que pode edificar, o
único que pode mudar, transformar, visitar, abençoar, revelar, dar dons, és
tu!”. Nos prostramos diante Dele para dizer: “Senhor, se tu não fizeres,
ninguém pode fazer”. Temos que orar com súplicas, petições e ações de graças.
Irmãos, para que a Igreja
seja a Igreja que Deus planejou desde antes da fundação do mundo, necessitamos
orar a sós, a dois, em grupos pequenos, com toda a congregação, e em todo
lugar. Paulo disse: “quero que os homens orem em todo lugar”. Irmão, quando
comes, oras; quando diriges, oras; quando
trabalhas, oras; quando vais,
quando vens, quando caminhas, quando dormes... Em todo tempo podes estar
orando, ao deitar-te ao levantar-te. A Igreja se edifica pela oração.
O Exemplo
Terceira coisa. Ao ler
está epístola encontro algo muito importante: A Igreja se edifica pelo exemplo,
pelo bom exemplo. Jesus era exemplo em tudo aquilo que ensinava. Ele podia
dizer a seus discípulo: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”,
“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Amados, a Igreja se edifica pelo
exemplo.
No capítulo 3, Paulo diz
a Timóteo: “Se alguém deseja ser bispo http://, deseja uma nobre função. É
necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher,
moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar..." em
outras palavras, em resumo: que seja um exemplo na Igreja. É o que Pedro disse
em sua primeira epístola, no capítulo 5. A Igreja se edifica por modelos. Nós
que estamos a frente, e todos que temos alguma responsabilidade, e todos que
temos que ensinar a outros. A forma de edificar a Igreja é através do exemplo.
Por que? Porque as
pessoas não vão seguir seu ensino, vão seguir seu exemplo. Você pode, no
início, impressionar bem aos novos com seu ensino e pregação, mas com o tempo
vão seguir seu exemplo. Assim, Paulo nos diz como tem que ser os anciãos ou
bispos, como tem que ser os diáconos, como tem que ser a mulheres, e finalmente
diz a Timoteo: “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um
exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza”.
Timóteo, sim, tens que ensinar; sim, tens que instruir, mas é fundamental que
seja um exemplo. A Igreja se edifica pelo exemplo.
Vejam, irmãos, estive
estudando esta carta, e encontro muitas virtudes de caráter que se mencionam
aqui. Virtudes de caráter. O que é caráter? É o que nós somos, nossa forma de
ser. Não é tão importante o que fazemos, mas sim o que somos, como somos e
atuamos. Nestes 6 capítulos são mencionadas cerca de 60 virtudes de caráter.
Desafio você a encontra-las e estuda-las. Só quando se fala de bispos e
diáconos, há um montão de virtudes de caráter, e a Timóteo fala várias outras.
Não temos tempo para entrar em detalhes, mas em essência, Paulo está afirmando
este princípio: A Igreja se edifica primeiro pelo amor, segundo, pela oração,
terceiro, pelo exemplo.
Que equivocadamente nos
têm ensinado: “Não tem que olhar para os homens, tem que olhar para Cristo”. E
quanto de nós, pastores, dissemos nos anos de nossa ignorância ministerial:
“Não olhe para mim, olhe para Cristo”. Paulo não dizia isso. O que ele dizia?
“Sejam meus imitadores como eu sou de Cristo”. Se você critica os irmãos ausentes, os novos vão aprender a
criticar, se você critica quem não está presente, seus filhos vão fazer o
mesmo. Se você reclama, os que estão próximos a você vão aprender a reclamar.
Se fala palavras de esperança, de fé, de ânimo, de vitória... Ensina com o
exemplo. Como nós somos, assim serão as gerações que virão.
Paulo diz a Timóteo:
“Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso”, falando do amor ao dinheiro,
que é a raiz de todos os males, “e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
perseverança e a mansidão”. Se você é egoísta, os que virão serão egoístas; se
você é avarento, isso se imporá sobre a Igreja. Se você é generoso, dadivoso,
serviçal, os que te seguem vão aprender a ser assim também. Os que vêm do mundo
estão olhando e observando, e necessitam referência. A Igreja se edifica pelo
exemplo. “Seja exemplo para os crentes”. Em que? Em tudo! Em palavra, em
conduta, em amor, em espírito, em fé, em pureza. Tudo que quiser ver nos
outros, seja exemplo do que você entende que deve ser a Igreja.
A Palavra
A Igreja se edifica pelo
amor; segundo, pela oração; terceiro, pelo exemplo, e finalmente chegamos onde queríamos
chegar: a Palavra. Mas se há palavra e não há amor, oração, exemplo; estamos
desperdiçando a palavra. Então, o que é importante é o que dissemos até aqui: o
amor que nasce de um coração puro, a oração e o exemplo. Agora prossigamos para
a Palavra.
Paulo, vez após vez, fala
aqui da santa doutrina. E no capítulo 4 diz: “Se você transmitir essas
instruções aos irmãos, será um bom ministro de Cristo Jesus, nutrido com as
verdades da fé e da boa doutrina que tem seguido. Rejeite, porém, as fábulas
profanas e tolas, e exercite-se na piedade...esta é uma palavra fiel e digna de
plena aceitação...ordene e ensine estas coisas... dedique-se à leitura pública
da Escritura, à exortação e ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi dado
por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros...atente bem para
a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo
assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem”.
A Palavra de Deus chega a
nós de duas maneiras: Jesus pregava e ensinava. Também curava os enfermos, mas
quanto à palavra, é dito várias vezes: “Jesus pregava e ensinava”. As duas
coisas são necessárias. Vou explicar assim: a palavra de Deus chega a nós de
dois modos diferentes: como verdade e como mandamento. Por exemplo, se eu digo
“Cristo morreu por nossos pecados”. O que é isso? Verdade ou mandamento?
Verdade! Se eu digo “Ama a teu próximo como a ti mesmo”, é um mandamento.
Nas Escrituras, a soma de
todas as verdades, se chama kerigma em grego. E a soma de todos os mandamentos
se chama didaké. A palavra didaké está traduzida por doutrina ou ensino. A
palavra kerigma está traduzida por pregação. E Paulo diz no capítulo 2 v7 que o
Senhor o constituiu “pregador e apóstolo, digo a verdade, não minto, mestre da
verdadeira fé entre os gentios”. Apostolo significa enviado; pregador vem de
kerigma. Em grego ao pregador se diz kerus, e ao mestre didaskalos, que vem de
didaké.
O kerigma é a proclamação
da verdade, que revela a pessoa de Cristo e a obra de Cristo. A verdade afirma,
o tom é afirmativo. O mandamento por sua vez tem tom imperativo, dá ordens,
revelando a vontade de Deus. Portanto, o kerigma proclama e revela a Cristo,
sua pessoa e sua obra, a didaké revela a vontade de Deus para nós.
Para sua edificação a
Igreja necessita destas duas coisas. O kerigma revelando a Cristo, e a didaké
revelando a vontade de Cristo para nós. Quando alguém proclama o kerígma, o
kerigma exige fé. O mandamento exige obediência.
A didaké é simples, é
clara, direta. Todos a entendem. Toca todas as áreas da vida: família,
trabalho, sexo, dinheiro, adoração, serviço, relacionamento com as pessoas,
relacionamento com Deus. A didaké equivale à parte moral da lei, é equivalente
aos Dez Mandamentos, porém mais aprofundados. O objetivo da didaké é fazermos
como Cristo; por isso sempre diz: “como Cristo”, ou “como eu amei a vós”,
“maridos, amem suas esposas... como Cristo amou a Igreja”.
Tanto didaké como kerigma
são palavra de Deus e revelam a vontade de Deus para todos nós. Seu conteúdo
não se impõe pela lógica ou raciocínio, mas pela autoridade de Jesus. “Se teu
inimigo tem fome, dá-lhe de comer”, é um mandamento. Obedecemos. Ele é o
Senhor.
Necessitamos conhecer a
didaké e encarná-la em nossas vidas, vive-la, e divulga-la. E, irmãos, o mais
maravilhoso é que a didaké não é uma coisa interminável. A didaké é
relativamente breve. Em Mateus 5, 6 e 7, três capítulos, está a didaké de
Jesus. E se quisermos completá-la um pouco mais, podemos agregar Efésios 4, 5 e
6. Temos assim, 80% de toda didaké do Novo Testamento. É uma coisa simples, mas
profunda, que comunica a vontade de Deus! E se quisermos completar um pouco
mais e chegar a 90% da didaké, podemos agregar Romanos 12, 13, 13, 15 e 16.
Temos então dez capítulos do Novo Testamento e quase toda a didaké está contida
aí, mandamentos que revelam a vontade de Deus.
Mas não podemos somente
dar a didaké, temos que dar o kerigma. Não podemos dar somente o kerigma, temos
que dar também a didaké. Estas duas coisas têm que caminhar juntas para edificar
a Igreja. Só com o kerigma, nos inflamamos, nos entusiasmamos. Somos abençoados
no momento, mas fica tudo ali, na glória do momento, na inspiração do kerigma.
Mas temos que descer do kerigma para a didaké, para a vida prática. No kerigma
há dynamis, há poder de Deus para nós. Na didaké está a vontade de Deus para
nossa vida prática e cotidiana. Assim se edifica a Igreja
Para dar um exemplo,
muitas vezes comparamos o kerigma com a locomotiva de um trem, e a didaké com
os vagões. É muito difícil puxar os vagões sem uma locomotiva. Mas, para que
serve a locomotiva, se não para levar os vagões? O importante é que os vagões
cheguem ao destino. E assim, os mandamentos de Deus sem a locomotiva que é o
kerigma podem ficar muito pesados, muito incômodos, difíceis e impossíveis de
cumprir. Mas Deus mandou seu Filho. Bendito seja o Senhor! “É Cristo és vós...
já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim”.
A didaké diz que você tem
que abençoar os que lhe maldizem, perdoar os que lhe ofendem. Essa é a didaké,
o mandamento.E o kerigma diz: “já não sou eu quem vive, mas cristo vive em
mim”. Então, como vou obedecer o mandamento? Através de Cristo que vive em mim.
A didaké sem o kerigma seria uma coisa muito pesado, difícil de cumprir; mas só
o kerigma, sem a didaké, ficaríamos só no entusiasmo, sem concretizar na vida
prática. Por isso, Paulo põe este equilíbrio, e mostra a Timóteo o que
realmente ele tem que fazer.
A Autoridade de Deus
A quinta coisa que
encontro nesta carta é a autoridade, a autoridade de Deus. Quero explicar.
Paulo tem uma clara visão do Reino de Deus. Ele proclama nesta carta uma vez
após outra Jesus Cristo como o Kyrios, o Senhor. O Kyrios significa a
autoridade absoluta, o dono. Ele proclama no versículo 1:17, em uma doxologia
mui linda: “Portanto, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único e sábio
Deus, seja a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém”.
Ele é o Rei. A autoridade
do Rei. E no capítulo 6 há outra doxologia tremenda. Diz: “a qual Deus fará se
cumprir no seu devido tempo. Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e
Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem
ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém”. No
Império Romano, todos os imperadores morriam, mas Paulo estava falando de Um
que é imortal, é invisível.
Os imperadores romanos
eram visíveis, mas todos eles eram mortais e se foram. Mas há um só que é
soberano, Rei dos reis, e Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita
em luz inacessível! “Ai qual seja a honra e o domínio para sempre”. Que quer
dizer para sempre? Por toda a eternidade. Assim, ao escrever isto, Paulo tinha
uma visão muito clara do Reino de Deus, a autoridade de Deus e o Senhorio de
Jesus Cristo.
Pois Deus, que é a
suprema autoridade, deu toda a autoridade a seu Filho, o Kyrios, o Senhor. E
Cristo deu autoridade aos apóstolos. Assim, Paulo, que é apostolo, é autoridade
delegada por Deus, é pai espiritual de Timóteo. E Timóteo é seu filho
espiritual. Aqui há autoridade. E lhe diz: “Te mandei a Éfeso, te roguei que
fosses a Éfeso”. E o tom que fala, ainda que amável e amoroso, é de autoridade,
e lhe instrui o que tem que fazer e o que não tem que fazer. “Este mandamento,
filho Timóteo, te encarrego, rejeita isso, evita aquilo”. Está lhe dando, com
autoridade do Senhor, tudo o que ele tem que fazer e não fazer.
A Igreja se edifica pela
autoridade de Deus. Essa autoridade vem de Deus a Cristo, de Cristo aos
apóstolos e dos apóstolos, neste caso, a Timóteo, um filho espiritual, a quem
envia a Éfeso. Paulo o envia e Timóteo obedece. Alguns dizem: “Não, não, não;
eu obedeço a Deus”. Não só a Deus. Tem que obedecer a Deus e aos pais, aos
apóstolos, aos pastores. Há autoridade na casa de Deus.
A Igreja se edifica por
autoridade. Hebreus 13:17 diz: “Obedecei a vossos pastores porque eles velam
por vossas almas”. Veja em 1Tm5:20 outra
exortação: “Aos que persistem em pecar repreende-os diante de todos para que os
demais também temam”. Repreende diante de todos? Sim. A quem? Não ao que peca
uma vez ou ao que peca duas vezes. Este pode admoestar pessoalmente. Mas ao que
persiste em pecar, que quer seguir pecando, repreende-o diante de todos.
Agora, no exercício da
autoridade não pode haver prejuízos. Como diz: “Eu o exorto solenemente, diante
de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas
instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo. Não se precipite
em impor as mãos sobre ninguém e não participe dos pecados dos outros.
Conserve-se puro.”. No uso da autoridade não pode haver abuso, nem
prejulgamento, nem parcialidade.Tem que ser algo puro como o senhor realmente
quer.
Se não há autoridade, o
ensino se perde. Se não sabe, ensina-o. Se sabe e pratica, anima-o, alegra-te
com ele. Se não pratica, admoesta-o e relembra-o. Se peca, na primeira vez
admoesta-o, na segunda repreende-o. E assim, com tudo que o senhor nos instrui.
Se não há autoridade o ensino se perde.
Quando há autoridade, os
irmãos aprendem que tem que obedecer. Assim é a Igreja. È a casa de Deus e em
toda Casa, e em toda família, há autoridade.
Instrução pessoal
E finalmente, o sexto
ponto nesta epístola que é importante para a edificação da Igreja é a instrução
pessoal ou o discipulado. Vou explicar. No capítulo 5 especialmente vê-se
claramente isso. Nem todas as situações são iguais. Paulo diz a Timóteo: “Não
repreendas ao ancião, antes exorta-o como a um pai; aos mais jovens, como a
irmão; às idosas, como a mães; às jovens, como a irmãs, com toda pureza. Honra
as verdadeiras viúvas. Mas se alguma viúva tem filhos, ou netos, aprendam estes
primeiro a ser piedosos com sua própria família...”.
O que está dizendo? Não
se pode tratar igualmente todas as pessoas. Cada um é cada um. Não se pode
tratar um ancião como a um jovem; não se pode tratar um jovem como uma moça. É
necessário um trato personalizado e adequado a cada um, segundo a graça,
segundo a necessidade, segundo a pessoa, segundo a situação de cada um.
Em seguida fala das
viúvas, e você pode observar ao estudar o capítulo 5 que há viúvas e viúvas. Há
viúvas jovens, a quem ele recomenda que se casem de novo; há viúvas mais velhas
que tem um testemunho excelente, que deve-se coloca-las na lista das irmãs que
servem a igreja e precisam ser sustentadas economicamente; há outras que não.
Então, não são todos iguais. Do púlpito não se pode conhecer a todos, desde uma
grande reunião não se pode chegar a adequadamente a todos.
Por exemplo, um dia prego
sobre a didaké que é necessário trabalhar, trabalhar materialmente, ganhar seu
sustento de cada dia, e todos escutam a mesma palavra. Mas ali há um irmão que
trabalha demais, e eu estou enfatizando que tem que trabalhar. Ele está
trabalhando 14 horas por dia, e se sente confirmado em seu trabalho material. E
há outro que é folgado para o trabalho, e esse recebe a palavra
superficialmente. Não se pode alcançar a todos adequadamente em sua edificação.
Aquele que está trabalhando demais, já está sacrificando sua família, está
descuidando da obra, quem sabe está trabalhando demais não porque necessite mas
por ambição. Este se sentirá confirmado em seu erro. O que está faltando? A
instrução pessoal. Precisa conhece-lo, tem que ser pai espiritual, tem que se
aproximar desse irmão com amor, com oração, com graça, mas com firmeza e dizer:
“Irmão, você está trabalhando demais; não precisa trabalhar tanto”. A um você
precisa dizer “Descansa!”, e a outro precisa dizer “Trabalhe mais!”.
Mas quando pregamos, a
palavra é geral; faz falta a instrução pessoal. A Igreja se edifica com
instrução pessoal. Cada irmão precisa ser conhecido por alguém de forma mais
próxima, para instruí-lo e orienta-lo mais especificamente.
Um dia prego que o homem
é o cabeça da casa e que tem que assumir a autoridade e a responsabilidade,
porque Deus o colocou como cabeça. Mas acontece que tem um irmão que é um
tirano em sua casa, um déspota com sua esposa, e depois de me ouvir pregar diz:
“Viu o que o pastor disse? Aqui eu sou a autoridade”. E minha palavra que era
palavra de Deus, didaké, em vez de ajuda-lo, confirmou sua tirania e seu erro.
Sem a instrução pessoal mão se pode edificar.
Precisa conhecer,
aproximar-se e dizer: “Irmão, a Bíblia diz que seja cabeça, mas você é um
cabeção. Não exagere, vá mais devagar. Deus lhe deu uma esposa, escute a sua
esposa as vezes. Ele lhe deu uma ajudadora idônea. Você a está anulando, a está
afastando. Não é assim irmão, não é assim”. Precisa uma instrução pessoal.
Outro precisa ser
fortalecido. Para uma irmã eu tive que dizer: “Irmã, não afrouxe, enfrente seu
marido”, porque fazia falta dizer-lhe isso. Mas não posso ensinar isso como
doutrina, era uma instrução muito particular, muito pessoal. E no capítulo 5 há
muita instrução particular, pessoal, e sobre tudo o que disse a Timóteo.
Por isso, irmãos,
precisamos da instrução pessoal para saber em cada situação escutar,
aconselhar, exortar. Alguns necessitam ânimo, outros necessitam oração, outros
apenas ser ouvidos, compreendidos, amados. As vezes não sabemos o que dizer a
pessoa, damos-lhe um abraço, e choramos com o que chora, e já se vai
consolando.
Assim, é indispensável
para a edificação da Igreja a instrução pessoal. Cada pessoa é valiosa, cada
pessoa é amada por Deus, e Ele quer chegar a cada um com sua graça, com seu
amor, com sua medida justa do que cada um precisa. Amém.
Pr. Rafael
Novais 10/10/2012
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