“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do
Pai não está nele” (1Jo 2:15, NVI).
“Por causa do Seu nome”
“Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por
causa do Seu nome” (1Jo 2:12).
Em 1 João 2:12-15, João se dirige aos “filhinhos”, aos “pais” e aos
“jovens”. Apesar das várias sugestões feitas sobre quem João tinha em mente por
essa divisão, sugerimos que “filhinhos” se refere a todos os membros da igreja,
porque, em sua epístola, João usa a palavra filhinhos neste sentido (1Jo 2:1,
12, 28; 1 Jo 3:7; 1Jo 4:4; 1 Jo 5:21).
Os “pais” representariam os membros mais idosos da igreja, e os “jovens”, os
membros mais jovens. Em resumo, ele se dirige a todos.
Em 1 João 2:12, ele diz a todos que seus pecados estão perdoados. Em que
base esse perdão é obtido? Veja também At 5:31; Rm 4:7; Ef 4:32; Cl 1:14; Col.
2:13.
João queria que seus ouvintes, isto é, os membros fiéis da igreja,
tivessem certeza absoluta da salvação. Ele estava se referindo novamente à
discussão sobre a questão do pecado, encontrada em 1 João 1:9 e 1 João 2:1, 2,
destacando que ser cristão significa ter esse perdão. Os cristãos não negam sua
pecaminosidade mas aceitam a salvação por meio de Jesus Cristo e, então, vivem
com a certeza de ter sido perdoados.
O mais importante é que os cristãos entendam que a base de sua salvação
é encontrada unicamente em Jesus e no que Jesus fez por eles. É por isso que
João diz que eles foram perdoados – não por causa de suas boas ações, nem por
suas convicções, e nem mesmo por causa de seu conhecimento de Deus, mas por
“causa do Seu nome”; isto é, por causa de Jesus e do que Ele fez por eles.
Assim, no meio de todo o discurso de João sobre a vitória, sobre a obediência,
ele preserva diante deles a ênfase de que a salvação vem unicamente por causa
de Jesus.
Vencendo o Maligno
1Jo 2:13, 14. Os filhos são
lembradas de que conhecem o Pai, enquanto os pais são lembrados de que conhecem
aquele que é desde o princípio. Obviamente, essa pessoa é Jesus. A expressão
“no princípio” é atribuída a Jesus em 1 João 1:1. Parece ter mais sentido
quando nestes versos o Pai e aquele que é desde o princípio (Jesus) são duas
pessoas diferentes. Quando os jovens são mencionados pela segunda vez, a frase
“vocês venceram o Maligno”(NVI) é repetida, mas a declaração é expandida. Os
jovens não apenas venceram o mal mas o próprio Satanás, porque pertencem a
Cristo e reivindicam Sua vitória. A língua original indica que a vitória foi
alcançada no passado, mas as consequências são uma realidade contínua. Os
jovens também são espiritualmente fortes, e a “palavra de Deus” permanece
neles.
A Palavra de Deus aponta para seu autor, o Espírito Santo (Ef 6:17; 2Pe
1:21). Então, alguns comentaristas sugerem que nesses versos é encontrada uma
referência implícita à Trindade: Deus o Pai, Jesus, aquele que é desde o
princípio, e o Espírito Santo, representado pela Palavra de Deus. No fim, os
verdadeiros crentes vieram a conhecer a Deus e continuam a conhecê-Lo; isto é,
mantêm um relacionamento íntimo com Ele.
Assim, nestes versos, recebemos a essência da vida cristã: perdão dos
pecados, conhecimento da Divindade, vitória sobre o pecado e a Palavra de Deus
que habita em nós.
Visto que os crentes sabem que Deus e Sua Palavra habitam neles, estão
prontos para o desafio dos versos 15-17. Enquanto os versos 12-14 contêm
declarações afirmativas, o verso 15 começa com um imperativo, um chamado ou
ordem: “Não ameis o mundo”.
Renunciando ao amor do mundo (1Jo 2:15)
Os cristãos são aconselhados a não amar o mundo. Como as Escrituras
definem a palavra mundo? Jo 12:19; At 17:24; Rm 1:20; Cl 2:8; 1Tm 6:7; Tg 4:4;
Ap 11:15
A palavra kosmos (traduzida por mundo) designa o Universo, a Terra, a
humanidade, o reino da existência e o estilo de vida oposto a Deus. A palavra
ocorre mais de 20 vezes em 1 e 2 João. O mundo precisa de salvação (1Jo 4:14),
mas é hostil a Deus e Seu povo (1Jo 3:13). Jaz no poder do Maligno (1Jo 5:19),
e falsos profetas, anticristos e enganadores estão no mundo (1Jo 4:1, 3; 2Jo
7). Não é errado possuir os bens do mundo, mas eles devem ser partilhados com
os necessitados (1Jo 3:17). Finalmente, o mundo precisa ser vencido (1Jo 5:4,
5). Nas epístolas de João, a palavra mundo é predominantemente um termo
negativo, porque o mundo está em rebelião contra Deus.
Existe uma contradição interessante nas Escrituras a respeito de nosso
relacionamento com o mundo. Por um lado, somos aconselhados a não amar o mundo,
mas, por outro lado, a Bíblia é clara em dizer que Deus ama o mundo (Jo 3:16).
Enquanto isso, a Bíblia diz que não devemos amar as coisas do mundo, mas nos
aconselha, repetidas vezes nas Escrituras, a amar as pessoas, e as pessoas
certamente estão no mundo!
O fim do verso 15 e o seguinte nos ajudam a entender o que João tinha em
mente. Ele não disse que devemos odiar os seres humanos ou menosprezar o
Planeta Terra; ao contrário, devemos odiar as coisas do mundo que, se forem
sobrevalorizadas por nós, nos impedirão de conhecer e experimentar por nós
mesmos o amor de Deus. Isto é, precisamos nos afastar das coisas do mundo que
nos impedem de manter uma relação de salvação com Deus.
Problemas com o mundo
“Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede
do mundo” (1Jo 2:16)
Enquanto o verso 15 é uma advertência ampla contra o amor ao mundo, o
verso 16 trata de alguns detalhes. O que significa amar o mundo? João menciona
três coisas: (1) a cobiça da carne, (2) a cobiça dos olhos e (3) a ostentação
dos bens (NVI). João diz que essas três coisas não são do Pai mas do mundo;
contudo a carne como os olhos e a vida vêm todos de Deus. Então, qual é o
problema? Contra que João está nos advertindo?
A cobiça da carne, obviamente, se refere às paixões, embora não precise
estar limitada somente a isso (veja Gl 5:19-21).
No entanto, a cobiça dos olhos, certamente ligada à carne, aprofunda os
sentimentos, pois se refere aos pensamentos, desejos das coisas que vemos e
queremos para nós mesmos (veja Ex 20:17).
O que João quer dizer com “a soberba da vida”? Veja Jó 12:10; At 17:28
A ideia da “soberba da vida” supõe independência de Deus. É como se nós
mesmos criássemos nossa vida e, consequentemente, a glória e a honra de algumas
de nossas realizações pertencessem a nós mesmos. “Sabei que o Senhor é Deus;
foi Ele quem nos fez, e dEle somos” (Sl 100:3). Em contraste, quando percebemos
que toda respiração, toda batida do coração, tudo que podemos ter ou ser vem
unicamente de Deus, de quem dependemos totalmente, o orgulho não encontrará
lugar em nosso coração. Como seres pecadores, caídos, cuja própria existência
depende inteiramente da graça e da beneficência de Deus, como seres
absolutamente incapazes de salvar a nós mesmos da morte e da destruição eterna,
devemos ser humildes e submissos quanto à nossa vida, e não nos encher de
orgulho a esse respeito. Foi o orgulho que trouxe a queda de Lúcifer a um mundo
perfeito; como seres em um mundo imperfeito, devemos fugir dele como da peste.
Um mundo passageiro (1Jo 2:17)
No verso 16 o apóstolo apresenta a primeira razão por que não devemos
amar o mundo: o amor do mundo e o amor do Pai são incompatíveis. No verso 17,
João acrescenta uma segunda razão: Não faz sentido amar o mundo, porque o mundo
é passageiro. É melhor e mais sábio escolher o que permanece. Fazendo isso, nós
mesmos também permaneceremos – isto é, viveremos para sempre.
A humanidade é tentada a viver o momento, ser cativada pelo mundo
material e entesourar só o que pode ser visto. Então, Paulo se une a João
dizendo: “Procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à
direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas
terrenas. Pois vocês morreram, e agora sua vida está escondida com Cristo em
Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também
serão manifestados com Ele em glória” (Cl 3:1-4, NVI) e: “assim, fixamos os
olhos não naquilo que se vê, mas no que não se vê. Pois o que se vê é
transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Co 4:18, NVI).
Em 1 João 2:8, João já havia declarado que as trevas se vão dissipando.
Agora, ele usa o mesmo verbo e diz que o mundo está passando, inclusive sua
cobiça. Chegou uma nova era com a encarnação de Jesus: a luz. As coisas deste
mundo estão passando; isso deve ser óbvio para todos. Em um mundo que está
passando, e nós juntamente com ele, as soluções políticas nunca podem ser a
solução final.
Se o mundo está passando, como podemos sobreviver? João responde: a
solução está em fazer a vontade de Deus. Embora a teologia correta seja
importante e João tente refutar os falsos mestres com sua compreensão
equivocada de Jesus e do pecado, também é importante viver em obediência. A
ética não pode ser separada da teologia. Palavras bondosas e doutrinas corretas
não são suficientes. Nossa teologia deve ser vivida.
Não vamos nos sentir tão à vontade aqui a ponto de esquecer nosso alvo
eterno; não vamos comprometer nosso amor a Deus sendo atraídos àquelas coisas e
atitudes que são hostis a Ele.
”Cristãos professos gastam anualmente soma considerável com inúteis e
perniciosas condescendências, enquanto as pessoas estão perecendo à falta da
Palavra da Vida. Deus é roubado nos dízimos e ofertas, enquanto consomem no
altar das destruidoras concupiscências mais do que dão para socorrer os pobres
ou para o sustento do evangelho. ... O mundo está entregue à satisfação de si
mesmo. ‘A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da
vida’ dominam as massas populares. Os seguidores de Cristo, porém, são dotados
de uma vocação mais elevada. ... À luz da Palavra de Deus estamos autorizados a
declarar que não pode ser genuína a santificação que não opere a completa
renúncia de todo desejo pecaminoso e prazeres do mundo" ( O Grande
Conflito, p. 475).
Falando positivamente, nossa passagem nos diz: Os cristãos genuínos têm
um relacionamento íntimo com a Divindade, manifestam obediência amorosa,
recebem forças para vencer o mal e têm em si a habitação da Palavra de Deus.
Seus pecados foram perdoados. Negativamente, não amam o mundo mas o rejeitam
onde ele é hostil a Deus e Sua causa.
Pr. Rafael Novais 11/10/2012
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